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A fala como cura
Ivone Santos
Psicóloga | CRP 07/26515
“Fala é maneira de
cura, quem fala confirma o poder da palavra”
(BaianaSystem)
A frase citada acima
está em meio a uma mixagem, feita pelo grupo BaianaSystem, na música “O Segundo
Sol”, gravada pela cantora Cássia Eller. Essa música empresta o nome e é o tema
de abertura da novela que passa em horário nobre. No entanto, não é sobre a
novela que escrevo, até porque não acompanho, o destaque aqui é sobre esta
nobre frase: “Fala é maneira de cura, quem fala confirma o poder da palavra”.
Foi a partir do
pedido de uma paciente – de que pudesse falar livremente – que Freud criou o
método psicanalítico: um tratamento baseado na fala, um tratamento em que o
fato de verbalizar, de buscar palavras para expressar o sofrimento,
possibilita, se não curá-lo, ao menos ter consciência de sua origem e, sendo
assim, a responsabilidade de assumi-lo.
O que você tem feito
com as suas dores?
Muitas pessoas
preferem render-se voluntariamente a substâncias químicas a falar de seus
sofrimentos mais íntimos. Seja essas substâncias lícitas ou ilícitas. É claro
que não estou negando a importância dos medicamentos no tratamento de casos de
extremo sofrimento psíquico. O problema é quando o recurso ao tratamento
medicamentoso é eleito como única forma de enfrentar as várias manifestações da
dor de viver.
Existir neste mundo
que impõe velocidade, capacidade de adequação, intolerância à frustração,
consumo exacerbado, necessidade de sucesso e felicidade parece ser um desafio
presente no cotidiano de cada pessoa. De modo que a busca por alívio imediato
para os seus males - sem a disponibilidade de tempo para pensar nas suas
mazelas -, passou a ser a nova ordem; assim como o apelo ao prazer imediato.
Então, nesse corre-corre, o ser humano se perde, pois já não sabe se essa
correria tem a ver com o que busca ou se está detido na “impossibilidade de
parar por não saber o que encontrará ao olhar-se”.
Diante disso é que
repito a frase: “Fala é maneira de cura, quem fala confirma o poder da
palavra”. Não tenho a pretensão de garantir que a fala é a cura de todos os
males, mas confio nos efeitos desse tipo de tratamento na vida de cada pessoa.
Minhas inspirações para este texto: Elisabeth Roudinesco, Maria Rita Kehl e Mônica Madeiros Kother Macedo.