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Suicídio? – A denúncia do sintoma
Josias S. Fontoura
Psicólogo, CRP 07/26.179
Participando do
Polêmicas Contemporâneas (evento trimestral do EBEP-POA), ouvia uma
psicanalista falando de nosso objeto de trabalho na psicanálise: o sujeito do
inconsciente. Trabalhamos com o infantil – que vem no adulto, ou na criança – e
não com a infância, ou adultez, ou terceira idade, ideias mais ao lado de um
dimensionamento social. O infantil, seja onde e quando ele apareça, sem
necessidade de enquadrá-lo numa faixa etária.
Numa lógica
semelhante, escutamos o sofrimento do paciente que nos chega na clínica, sem
necessidade de enquadrá-lo nas patologias psicológicas (o que não significa
recusar o saber médico ou psicológico a respeito do sofrimento), visto que o
efeito de tal método iria na direção de angariar uma estatística, ou produzir
um encaminhamento, ou resultar numa condução de cura, entre outros. Seja qual
for a explicação, está ao lado de uma pressa de concluir, não de substrato para
aquele que fala de sua dor.
Lacan (1966) introduz
na clínica psicanalítica a idéia de tempo lógico, segundo a qual o tempo de
compreender (antes do momento de concluir) é singular e não cabe na
categorização, nem num enquadre de tratamento padrão. Por essa via, esse
sujeito que nos chega com sofrimento tal que não suporta sua vida, seu corpo,
sua inércia, precisa ser escutado a partir do que os efeitos de seu sintoma
denunciam de sua história e de seu modo de viver.
O sintoma é como um
outro lado da condição desejante do sujeito, uma janela pela qual olhar – para
si, para o outro. Silenciar o sintoma é sufocar a verdade que ele nos traz. Por
isso, precisamos falar (escutar) sobre suicídio, sobre automutilação, sobre
depressão. Dar voz à vontade de acabar com a vida, é muitas vezes o único
caminho para não continuar em um gozo (vivo) de morte.
E uma análise é o
lugar mais recomendável para tecer de palavras as sensações, e relançar seus
sentidos, abrir com elas novos caminhos. Porque interroga, corta, incomoda. Até
causa dor, mas uma “dor de crescimento”, de descoberta.